Este artigo é um dos produtos vinculados à pesquisa Educação em territórios vulneráveis, que busca compreender a relação entre escolas e territórios vulneráveis de grandes metrópoles. A investigação buscou responder a duas perguntas:
No Brasil e em outros países, as grandes cidades, apesar de ricas, econômica e culturalmente, apresentam indicadores de qualidade educacional mais baixos do que as cidades médias. A explicação se encontra na segregação espacial e social nas metrópoles, que concentram, em geral, grandes grupos de sua população em bairros afastados e isolados dos centros.
Nesses bairros, as famílias costumam ter menores chances de acesso ao trabalho, a equipamentos públicos, serviços de saúde, à segurança e cultura, bem como à educação – enfim, aos direitos básicos. Além disso, elas tendem a ser estigmatizadas pelo local de moradia, associado a um conjunto de significados negativos, como a ausência de ‘cultura’, o tráfico, a incivilidade, o rompimento com a coesão social e com a lei, etc.
As escolas localizadas nesses territórios têm números do Indicador de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) mais baixos que os das escolas localizadas nas áreas mais centrais das metrópoles. Tais áreas são também aqueles que possuem os indicadores mais altos de vulnerabilidade social (CARVALHO; LACERDA, 2010). São as regiões que mais expõem as famílias a riscos. Há, assim, uma relação entre baixos indicadores educacionais – que, mesmo que de modo incompleto, sinalizam a baixa qualidade da educação – e os territórios vulneráveis.
O objetivo geral desta pesquisa foi explorar a hipótese do efeito de território sobre as oportunidades educacionais. Seus objetivos específicos consistiram em apreender se e como desigualdades nos níveis de vulnerabilidade social da vizinhança da escola impactam a oferta educacional que ali se realiza e, por meio dela, o desempenho dos estudantes. A investigação conjugou procedimentos metodológicos de natureza quantitativa e qualitativa, tendo como campo uma subprefeitura da região leste do município de São Paulo (SP).
A análise dos dados mostra que, quanto maiores os níveis de vulnerabilidade social do entorno do estabelecimento de ensino, mais limitada tende a ser a qualidade das oportunidades educacionais por ele oferecidas. Mostra também que o efeito negativo do território vulnerável sobre a escola se exerce por meio de cinco mecanismos articulados: isolamento da escola no território; reduzida oferta de matrícula na Educação Infantil; concentração e segregação de sua população escolar em estabelecimentos de ensino nele localizados; mecanismos de interdependência competitiva entre escolas; e dificuldades, dada essa posição de desvantagem, para garantir o funcionamento do modelo institucional que orienta a organização escolar.
BATISTA, A.; PADILHA, F.; CARVALHO-SILVA, H.; ALVES, L.; RIBEIRO, V. A escola e os territórios vulneráveis das grandes cidades. Salto para o Futuro, Brasília, n. 22, p. 16-26, nov. 2013. Disponível em: http://ftp.cenpec.org.br/com/portalcenpec/biblioteca/Artigo-SaltoparaoFuturo.pdf. Acesso em: 14 jan. 2019.