Ao longo de três anos, o Programa Eleva Aprendizagem trilhou um percurso de formação com equipes técnicas da secretaria municipal de educação (Semed) e formadoras(es) de professoras(es) de 17 municípios do Conisul (Alagoas). O Eleva Aprendizagem se fundamenta nas ferramentas e ações do Apoio Pedagógico Complementar (APC), desenhado pelo Cenpec para integrar o Programa Melhoria da Educação, do Itaú Social.
Com objetivo de enfrentar desafios relacionados à equidade nas aprendizagens, redução de taxas de reprovação, de abandono escolar e de distorção idade-série, o APC focou na recomposição das aprendizagens para os anos iniciais do Ensino Fundamental e colocou em diálogo a atuação das equipes da Semed e das escolas, investindo no ciclo: diagnóstico da situação educacional, planejamento, implementação de ações, acompanhamento e avaliação da política educacional.
Os desafios enfrentados durante e no pós pandemia da Covid-19 são motivadores do surgimento de projetos e programas que olham especialmente para as crianças e jovens com a formação básica comprometida devido ao período de isolamento.
Realizado nos dias 29 e 30 de julho, o Seminário “Programa Eleva Aprendizagem: garantindo a continuidade da colaboração” reuniu representantes de 16 municípios para compartilharem as experiências exitosas de sala de aula, os avanços e os desafios enfrentados nesta caminhada. Relatos de práticas e debates sobre as temáticas que atravessaram o APC, como a educação para relações étnico-raciais, a educação antirracista e a promoção da aprendizagem com equidade, deram a tônica do momento de celebração e mobilização da continuidade pelos próprios municípios.
Para Érica Catalani, Coordenadora de Programas e Projetos do Cenpec, que esteve à frente do APC, o seminário foi um momento de muita alegria, pois foram compartilhadas experiências riquíssimas, inspiradas nas ações formativas de planejamento, língua portuguesa, matemática, avaliação e enfrentamento das desigualdades educacionais. Algo presente nos três anos de projeto e destacado no seminário, foi o grande espírito de colaboração e troca de conhecimentos entre todo(a)s participantes, desde pontos focais às(aos) dirigentes municipais.
“No período em que estivemos no Conisul, foi possível testemunhar o crescimento das equipes e contribuir para a autopercepção de seus potenciais. As equipes puderam verificar suas fragilidades e investir no crescimento em equipe. Vimos municípios que tinham equipes mais estruturadas apoiarem outros que tinham uma equipe muito pequena, muitas vezes tendo que tratar de múltiplos assuntos. No Seminário, 14 municípios apresentaram relatos de experiências bem sucedidas nos territórios. Tivemos desde experiências de língua portuguesa, do trabalho formativo em matemática, do uso qualificado dos resultados das avaliações, o que significa que eles estavam disseminando as formações”, destaca.
As estratégias de mobilização da Câmara Técnica do Conisul foram essenciais para a participação qualificada dos municípios na implementação das ações, ferramentas e metodologias do APC, de modo que cada experiência se tornou única e fez sentido para o território, reforça Érica.
Ao longo do desenvolvimento do programa, os aprendizados para o Cenpec também foram relembrados pela coordenadora. Diante dos desafios iniciais, houve uma mudança e protocolos mais extensos deram lugar a documentos mais concisos, como cadernos de pauta, mais úteis aos movimentos formativos desdobrados pelos municípios.
Apesar dos ajustes, já foi possível identificar avanços significativos na integração das equipes e na melhoria das práticas, com um impacto positivo na aprendizagem das crianças, especialmente aquelas em situação mais vulnerável.
Érica ainda destaca o papel do Itaú Social, que proporcionou o desenvolvimento do Programa adequando-o às necessidades do Conisul. “O Itaú Social foi extremamente cuidadoso, por exemplo, pensou no ciclo da gestão no processo de transição da saída, e no processo de continuidade, respeitou os movimentos da secretarias. Não é sempre que um parceiro vai apoiar o trabalho de uma gestão e entende e respeita os movimentos dessa gestão”, observa.
Diante da expectativa de que os municípios continuem o trabalho iniciado pelo APC, mantendo o compromisso com a melhoria da educação e a equidade no atendimento, Érica destaca a importância do repositório de materiais e das ferramentas de análise das avaliações diagnósticas. “Estamos em processo de transferência para o Conisul, pois o Cenpec tem grande atenção com a autonomia das equipes. Para pensar as políticas públicas a gente precisa de dados qualificados que consigam de fato mostrar onde estão os gargalos”.
“A gente sonha que o aprendizado com o APC possa ser, de certa forma, estendido aos anos finais, e entendo que alguns municípios já fizeram isso. Seria uma forma de abarcar outra faixa etária na continuidade a essa política educacional”, aponta Érica.
O Ideb de 2023 – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica que agrega desempenho em Língua Portuguesa e Matemática e o fluxo escolar-, publicado recentemente, espelhou todo o avanço já observado no painel de resultados do APC.
Dezesseis dos 17 municípios participantes tiveram resultados superiores aos obtidos em 2019, ou seja, conseguiram superar as perdas da pandemia e ainda avançar. Somente um município não conseguiu, tendo ficado com um valor de Ideb 0,3 pontos abaixo do patamar de 2019.
Edvânia Lessa, da assessoria da Câmara Técnica de Educação do Conisul, que acompanhou o APC desde o início, também destaca a importância do Painel de resultados construído pelo Cenpec e que fica como ferramenta para avaliação e planejamento das equipes.
“Vamos continuar fazendo uma educação para que nenhuma criança fique para trás, pois quando a gente fala dos direitos dela a gente tem que saber que são de todas e todos. Precisamos garantir a permanência de cada estudante nas escolas para que a gente tenha uma perspectiva de uma educação inclusiva, de futuro para esse programa tão lindo que nos fez colher tantos bons resultados e que a gente possa garantir a recomposição”, reforçou.
Para Tereza Feitoza, formadora do município de Teotônio Vilela, que já desenvolvia um projeto de recomposição de aprendizagem, o APC trouxe um olhar diferenciado para aprimorar o olhar, avaliação e planejamento da ação educativa a partir da elaboração do perfil dos estudantes.
“Nós tratávamos igualmente a todos os estudantes com baixo desempenho, não conhecíamos qual era a sua situação socioeconômica, raça/etnia, entre outros aspectos. Foi através do Programa Eleva Aprendizagem, com as orientações para aplicação do questionário de perfil do estudante que nos despertou o olhar para a equidade, conhecendo a realidade de cada estudante e promovendo ações que possam contribuir para a redução das desigualdades educacionais. Inclusive adaptamos o questionário de perfil e aplicamos para todos os estudantes da rede no ato da matrícula para a partir dos resultados propor políticas que possam contribuir ainda mais com o desenvolvimento desses estudantes”, conta.
Segundo Tereza, o programa também contribuiu para melhorar a qualidade do clima escolar. “Os encontros formativos ofertados pelo Cenpec, proporcionaram um novo olhar e uma melhoria na qualidade do planejamento pedagógico dos professores e isso refletiu também no desempenho dos estudantes das turmas do Programa”, afirma.
Confira abaixo alguns depoimentos sobre o legado que o APC deixa para gestoras, pontos focais e formadoras do Conisul:
“Para mim existe uma formadora antes e depois do APC, depois de todos os encontros formativos. As formações, tudo que era explicado, toda a motivação das formadoras foram um suporte excepcional para nossas aprendizagens, para a inovação pedagógica. Mesmo não sendo um dos pontos focais, minha coordenadora dizia que eu precisava estar lá.
Para mim falar sobre educação antirracista foi uma das coisas mais fortes na minha trajetória profissional, não só porque sou uma mulher preta, mas também pela luta. Ano passado estava voltando de um tratamento de câncer, estava voltando a trabalhar quando a coordenadora disse do programa, e foi uma oportunidade de crescer na minha vida profissional. A gente renasce quando sai de um processo como esse e na minha vida profissional aconteceu o mesmo.
No início, no ano passado, eu era só formadora dos primeiros anos, mas antes de terminar o ano a gente começou a avaliar, que eu me envolvi também.
O aprimoramento da avaliação educacional foi super importante para mim como campo de estudo e também no desenvolvimento profissional. Sou formadora, trabalho com avaliação e meu foco é agora saber porque os alunos não conseguem crescer em determinado indicador. Nossa preocupação não fica só nos dados, ela volta para a sala de aula. Então olhamos para isso buscando fazer essas conexões.
O Conisul conseguiu reunir o todo, o coletivo, mas eu creio que é uma base, vamos fortalecer a base para dar continuidade no nosso município para continuar no coletivo. A gente vai continuar promovendo essas mudanças”.
Marta Santos, formadora do São Miguel dos Campos.
“A partir dos dados hoje das avaliações que foram feitas no início do programa, há 3 anos, e da avaliação que foi feita esse ano a gente percebe um crescimento imenso nessas crianças que passaram pela pandemia e estavam bastante desanimadas, com aprendizagem totalmente defasada. A aprendizagem avançou imensamente em todos os municípios e isso foi uma grande alegria tanto para os pontos focais, que proporcionaram esse trabalho de educação, quanto para nós que fazemos o Programa Eleva Aprendizagem.
Para mim, enquanto articuladora, tive muitas experiências válidas para o meu aprimoramento profissional e considero uma das mais importantes foi a possibilidade de unir os 17 municípios num só propósito, que era elevar o nível da educação dos alunos do ensino fundamental anos iniciais. Conseguir que esses municípios trabalhassem em colaboração foi um milagre, porque cada um além de cuidar do seu município teve um olhar também para os municípios vizinhos”.
Neide Granja, do Conisul.
“Com o programa, nós já vimos a melhoria na aprendizagem, na redução das taxas de reprovação, do abandono escolar e na distorções de idade-série, e sabemos que isso tudo foi resquício de pandemia, nos anos de 2020 e 2021. O Programa Melhoria da Educação proporcionou que esses municípios hoje estejam de mãos dadas, abraçados e a gente já ter conseguido bons índices também nos deixa bastante felizes. Hoje temos diagnósticos que nos ajudam a identificar as dificuldades de aprendizagem e apontam onde devemos traçar as metas e construir estratégias para que o trabalho seja feito de forma a sanar o problema e garantir o direito de todos os estudantes.
Nós que iniciamos com esse programa vimos como é essencial a elaboração do plano de ação para que se investigue o que realmente nós vamos focar na recomposição da aprendizagem. Eu pude observar que os municípios estão bastante empenhados com recomposição da aprendizagem.”
Edvânia Lessa, da assessoria da Câmara Técnica de Educação do Conisul.
“Os encontros formativos me ajudaram a refletir sobre a nossa realidade, aprender com as experiências dos demais municípios e consequentemente enxergar o que precisava melhorar. Falo especialmente dos encontros que trataram do planejamento e avaliação porque foi o meu foco de atuação, tendo em vista que tínhamos dois formadores para atuarem diretamente com os componentes de Língua Portuguesa e Matemática.
Entendendo que para melhorar o desempenho dos estudantes com baixo rendimento não é somente ampliar o tempo de estudo nos componentes curriculares de Língua Portuguesa e Matemática, mas organizar o planejamento com outras ações que contemplem as diversas dimensões, como a mobilização da equipe envolvida, o clima escolar positivo que gere nos envolvidos o sentimento de pertencimento, o monitoramento, entre outros. Minha expectativa é continuar desenvolvendo o programa no município, agora de forma mais aprimorada, colocando em prática o que aprendemos com a equipe técnica do Cenpec durante esse período que esteve assessorando os municípios do Conisul.”
Teresa Feitoza, ponto focal do município de Teotônio Vilela.
“As formações foram extremamente valiosas, as formadoras foram muito didáticas e assertivas nas temáticas propostas, levando a identificar aquilo que a gente precisava ter como prioridade para fazer uma boa análise das condições para colocar em prática a recomposição da aprendizagem dos nossos estudantes.
Nossa expectativa é de que cada vez mais tenhamos colaborações e parcerias firmadas com os municípios. Queremos continuar investindo em uma educação de qualidade, com um olhar para a formação dos nossos professores de maneira que também sejam formados para implementar a recomposição das aprendizagens.”
Agda Isabele, ponto focal do município de Campo Alegre.